sexta-feira, 20 de julho de 2007

"O MEU TIO HENRIQUE"


O meu tio Henrique, não é de facto meu tio. De seu nome Henrique Anselmo nasceu no ano de 1987 em Pinhanços (Seia), tendo sido educado por um tio seu (por sua vez) comerciante em Paris. Talvez por isso tenha sido sempre conhecido como Henrique de Pinhancourt.

Os seus estudos na Sorbonne em Arquitetura Moderna, foram demorados, como tradicionalmente, pelos atractivos de uma vida boémia entre as Folies das Bergéres.

Aos 30 anos foi para África tendo viajado entre Angola e Moçambique por terra já que a água lhe causava alergias e borbulhas na pele. Perito em fauna e flora africanas a sua casa era um verdadeiro museu e quando regressou em 1925 era um homem rico do ponto de vista financeiro, de conhecimentos cientificos e de experiência da vida

Contraiu matrimónio com Lorette Fonseca que conheceu num baile de apresentação à sociedade da sua irmã mais nova - Sinclair.

Após 3 anos de matrimónio foi a graça de deus que lhes trouxe um filho varão, forte como o pai e inteligente como a mãe.

A ligação entre entre Henrique e Lorette for gravemente afectada pela infidelidade da sua mulher que o obrigou a vários anos de tratamento contra a sifilis.

Ir a casa do tio Henrique era viajar no tempo e no espaço. Ouvir as suas histórias uma experiência que nos fazia mexer no assento como se nos desviassemos dos leões ou corressemos para apanhar a girafa. A melhor de todas, aquela em que perante o rugido que vinha do meio do arvoredo selvagem toda a caravana fugiu e só o Henrique Anselmo, de Pinhancourt pois não, ficou - algures entre o corajoso idiota e o paralisado pelo medo.
Lentamente ergueu a arma que apontou para a frente para o folhedo verde agitado como que por mera inquietação.
Do meio do nada entre a vegetação surgiu o Hambambe da tribo Makhuwa que tentava salvar-se de uma pantera esfomeada que via nele um pitéu. O tio disparou, não tendo atingido a pantera mas fazendo o barulho suficiente para afugentá-la.
Hambambe tornou-se uma amigo leal e igual do tio Henrique e acompanhou-o até ao fim dos seus dias (vivendo em Lisboa com o sacrificio que podem imaginar).
Foi com ele que o Tio reforçou a sua convicção de o seu destino era por ele mesmo governado e não tanto pelo fado de Portugal.
Hambambe contava-lhe que havia vários tipos de homens, entre os quais os Makhuwa e os Sena - Se uma mulher Sena fosse infiel ao marido o marido suicidava-se - se uma mulher Makhuwa fosse infiel ao marido o marido batia-lhe a ela e ao Sena.

No hall de entrada o seu busto imponente, os cabelos encaracolados, o nariz partido por uma cadeira naquela discussão na Rive Gauche, os olhos vivos que mesmo de pedra se tornavam azuis e aquela marca da familia que ainda hoje perdura - as orelhas.



P.S. O tio Henrique nunca existiu, nem há nenhum tio Henrique na minha familia. Era um busto no chão do Jardim de Paço de Arcos, no fim da feira das velharias, partido das arrumações ou das quedas -mas um olhar simpático que não me importava de ter tido na familia.
Mas não faz mal, poupei 40 Euros :)

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